Rubens Amador

A mentira


Presidente da Bibliotheca
Pública Pelotense
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Este mau sentido da palavra, talvez seja um dos mais empregados pelos humanos. Há mentiras piedosas - simples mentiras, como as que se profere vez por outra às crianças e aos doentes terminais. Mas há a mentira malévola, perversa, a que cria a impostura - enganando - por tempo e interesse do agrado do mentiroso que, através da dissimulação (nunca olhando nos olhos da sua vítima), de repente, como um Dr.Jeckyl - do livro de Stevenson - o loroteiro se transforma em figura horrenda, deixando cair sua máscara de angelical criatura, para mostrar-se por inteiro, tal como sempre foi em verdade: um Mr.Hyde!

Há não muito tempo, em Capão da Canoa, uma patranha acabou em tragédia. Para se livrar de culpa por deslize seu, ao arranhar a moto nova da firma que roubava pela noite para passear, um mau empregado apontou ao patrão genioso e indignado, um jovem colega seu, inocente, "mas que o teria assaltado", motivo por que, ao fugir, deixou a máquina cair, arranhando-a. Tudo mentira. Como a cidade é pequena e todos se conhecem, o patrão, irado e fora de si, armou-se com seu revólver e acabou matando ao jovem inocente, e falsamente acusado, que morreu sem saber por quê! Vejam o que pode uma mentira causar. Essa mancha de certos caracteres é, basicamente, o ato de afirmarem coisas contrárias à verdade!

O falso é, pois, um indutor de erros. Cria situações, mostrando-se desembaraçado e simpático, mente deliberadamente, ao acenar com promessas, para derrubar, sem dó nem piedade, quem crê em si. Enquanto um está tranqüilo, sem saber em que ambiente está se metendo com o estranho bem falante, acaba vítima de embuste. O mentiroso sempre tem um objetivo egoístico em mente. Representa, como artista de teatro mambembe, deslumbrando seu público. "A mentira se transforma em abismo onde agonizam traiçoeiras ambições, mentidas esperanças, negras asas diabólicas!", escreveu Teixeira de Pascoais, em suas Obras Completas, sétimo volume, página ll2. A farsa concebida através da simulação, da "conversa" do loroteiro, é a pior coisa que existe, porque acaba desnudando inclusive a alma de pessoas que mereceram credibilidade por certo tempo. E que acabam causando, além de tudo, amargas e surpreendentes decepções . Concluindo, passei a achar que só devemos crer "na verdade dos espelhos"; e observar sempre o provérbio português, que adverte: "Boa raça não mente!"

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